Edição nº 209

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Problemas de comunicação


Problemas de comunicação

Diante da catedral

Eu estava me sentindo muito só quando saí de uma missa na Catedral de Saint Patrick, em plena New York.

De repente, fui abordado por um brasileiro:

- Preciso muito falar com você - ele disse.

Fiquei tão entusiasmado com o encontro, que comecei a contar tudo que achava importante para mim. Falei de magia, falei de bênçãos de Deus, falei de amor. Ele escutou tudo em silêncio, me agradeceu, e foi embora.

Ao invés de alegria, eu me senti mais só do que antes. Mais tarde fui me dar conta; no meu entusiasmo, não tinha dado atenção ao pedido daquele brasileiro.

Falar comigo.

Atirei minhas palavras ao vento, porque não era isto que o Universo estava querendo naquela hora: eu teria sido muito mais útil se escutasse o que ele tinha a dizer.

 

Quem amamos?

Desde crianças, nos perguntam: você ama papai? Você ama titia? Você ama seu professor?

Ninguém pergunta: você se ama?

E terminamos gastando grande parte de nossa vida e de nossa energia tentando agradar os outros. Mas e a gente? O jesuíta Anthony Mello conta uma genial história a respeito.

Mãe e filho estão numa lanchonete. Depois de escutar o pedido da mãe, a garçonete vira-se para o menino:

- O que você quer?

- Um cachorro-quente.

- Nada disso - diz a mãe.- Ele quer bife com verduras.

A garçonete, ignorando o comentário, pergunta ao garoto:

- Você prefere com mostarda ou com ketchup?

- Os dois – responde o garoto.

E logo em seguida vira-se para a mãe, surpreso:

- Mamãe! ELA ACHA QUE EU SOU DE VERDADE!

 

Ninguém acredita

Conta a lenda que, logo após sua Iluminação, Buda resolveu passear pelos campos. No caminho, encontrou um lavrador, que ficou impressionado com a luz que emanava do mestre.

- Meu amigo, quem é você? - perguntou o lavrador. – Pois tenho a sensação que estou diante de um anjo, ou de um Deus.

- Não sou nada disto - respondeu Buda.

- Quem sabe você é um poderoso feiticeiro?

- Tampouco.

- Então, o que o faz ser tão diferente dos outros, a ponto de um simples camponês como eu ser capaz de notar isto?

- Sou apenas alguém que acordou para a vida. Nada mais. Mas falo isto para todo mundo, e ninguém acredita.

 

O guarda-chuva

Como manda a tradição, ao entrar na casa do mestre zen, o discípulo deixou do lado de fora os sapatos e o guarda-chuva.

- Vi pela janela que você chegava – comentou o mestre. - Você deixou os sapatos à direita ou à esquerda do guarda-chuva?

- Não tenho a menor idéia. Mas que importância tem isso? Eu estava pensando no segredo do Zen!

- Se você não prestar atenção na vida, jamais aprenderá coisa alguma. Comunique-se com a vida, dê a cada segundo a atenção que merece; este é o único segredo do Zen.

 
Edição nº 209
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