Edição nº 20
Viajando de maneira diferente |
Conto - O jogo
de xadrez
Reflexões
do Guerreiro da Luz
Desde de muito jovem descobri que a viagem era, para mim, a melhor maneira de aprender. Continuo até hoje com esta alma de peregrino, e decidi relatar nesta coluna algumas das lições que aprendi, esperando que possam ser úteis a outros peregrinos como eu.
1] Evite os museus. O conselho
pode parecer absurdo, mas vamos refletir um pouco juntos: se você
está numa cidade estrangeira, não é muito mais
interessante ir em busca do presente que do passado? Acontece que
as pessoas sentem-se obrigadas a ir a museus, porque aprenderam
desde pequeninas que viajar é buscar este tipo de cultura.
É claro que museus são importantes, mas exigem tempo
e objetividade - você precisa saber o que deseja ver ali,
ou vai sair com a impressão de que viu uma porção
de coisas fundamentais para a sua vida, mas não se lembra
quais são.
2] Freqüente os bares.
Ali, ao contrário dos museus, a vida da cidade se manifesta.
Bares não são discotecas, mas lugares onde o povo
vai, toma algo, pensa no tempo, e está sempre disposto a
uma conversa. Compre um jornal e deixe-se ficar contemplando o entra-e-sai.
Se alguém puxar assunto, por mais bobo que seja, engate a
conversa: não se pode julgar a beleza de um caminho olhando
apenas sua porta.
3] Esteja disponível.
O melhor guia de turismo é alguém que mora no lugar,
conhece tudo, tem orgulho de sua cidade, mas não trabalha
em uma agência. Saia pela rua, escolha a pessoa com quem deseja
conversar, e peça informações (onde fica tal
catedral? Onde estão os Correios?) Se não der resultado,
tente outra - garanto que no final do dia irá encontrar uma
excelente companhia.
4] Procure viajar sozinho, ou -
ser for casado - com seu cônjuge. Vai dar mais trabalho,
ninguém vai estar cuidando de você(s), mas só
desta maneira poderá realmente sair do seu país. As
viagens em grupo são uma maneira disfarçada de estar
numa terra estrangeira, mas falando a sua língua natal, obedecendo
o que manda o chefe do rebanho, preocupando-se mais com as fofocas
do grupo do que com o lugar que se está visitando.
5] Não compare. Não
compare nada - nem preços, nem limpeza, nem qualidade de
vida, nem meio de transportes, nada! Você não está
viajando para provar que vive melhor que os outros - sua procura,
na verdade, é saber como os outros vivem, o que podem ensinar,
como se enfrentam com a realidade e com o extraordinário
da vida.
6] Entenda que todo mundo lhe entende.
Mesmo que não fale a língua, não tenha medo:
já estive em muitos lugares onde não havia maneira
de me comunicar através de palavras, e terminei sempre encontrando
apoio, orientação, sugestões importantes, e
até mesmo namoradas. Algumas pessoas acham que, se viajarem
sozinhas, vão sair na rua e se perder para sempre. Basta
ter o cartão do hotel no bolso, e - numa situação
extrema - tomar um táxi e mostrá-lo ao motorista.
7] Não compre muito.
Gaste seu dinheiro com coisas que não vai precisar carregar:
boas peças de teatro, restaurantes, passeios. Hoje em dia,
com o mercado global e a Internet, você pode ter tudo sem
precisar pagar excesso de peso.
8] Não tente ver o mundo
em um mês. Mais vale ficar numa cidade quatro a cinco
dias, que visitar cinco cidades em uma semana. Uma cidade é
uma mulher caprichosa, precisa de tempo para ser seduzida e mostrar-se
completamente.
9] Uma viagem é uma aventura.
Henry Miller dizia que é muito mais importante descobrir
uma igreja que ninguém ouviu falar, que ir a Roma e sentir-se
obrigado a visitar a Capela Sixtina, com duzentos mil turistas gritando
nos seus ouvidos. Vá à Capela Sixtina, mas deixe-se
perder pelas ruas, andar pelos becos, sentir a liberdade de estar
procurando algo que não sabe o que é, mas que - com
toda certeza - irá encontrar em mudará a sua vida.