Edição nº 25

Um homem deitado no chão  |  Sobre o Talmud e o Midrash

Sobre o Talmud e o Midrash

     O escritor Arnaldo Niskier reuniu num interessante livro, "A Sabedoria Judaica", algumas histórias, provérbios e reflexões do povo judeu, tiradas do Talmud (uma coleção de 18 volumes, contendo mil anos de discussão entre rabinos e discípulos) e do Midrash (interpretação das Escrituras, com ênfase na ética e na tradição). Aqui vão alguns trechos:

A resposta
     Certa vez um homem interrogou o rabino Joshua ben Karechah:
     - Por que Deus escolheu um espinhal para falar com Moisés?
     O rabino respondeu:
     - Se ele tivesse escolhido uma oliveira ou uma amoreira, voce teria feito a mesma pergunta. Mas não posso deixa-lo sem uma resposta: por isso digo que Deus escolheu um mísero e pequeno espinhal para ensinar que não há nenhum lugar na terra onde Ele não esteja presente.

Coisas deste mundo
     Uma vez, Rab Huna repreendeu seu filho, Rabbah:
     - Por que não vais à conferência de Rav Chisda? Dizem que ele fala muito bem.
     - Por que devo ir? - contestou o filho. - Todas as vezes em que o fiz, Rav Chisda falou apenas das coisas deste mundo: das funções do corpo, dos órgãos, da digestão, e de outras coisas ligadas simplesmente ao físico.
     E o pai disse:
     - Rav Chisda fala das coisas criadas por Deus e você diz que ele fala de coisas deste mundo? Vai e escuta-o!

A janela e o espelho
     Um jovem muito rico foi ter com um rabi, e lhe pediu um conselho para orientar a vida. Este o conduziu até a janela e perguntou-lhe:
     - O que vês através dos vidros?
     - Vejo homens que vão e vêm, e um cego pedindo esmolas na rua.
     Então o rabi mostrou-lhe um grande espelho e novamente o interrogou:
     - Olha neste espelho e dize-me agora o que vês.
     - Vejo-me a mim mesmo.
     - E já não vês os outros! Repara que a janela e o espelho são ambos feitos da mesma matéria prima, o vidro; mas no espelho, porque há uma fina camada de prata colada a vidro, não vês nele mais do que a tua pessoa. Deves comparar-te a estas duas espécies de vidro. Pobre, vias os outros e tinhas compaixão por eles. Coberto de prata - rico - vês apenas a ti mesmo. Só valerás alguma coisa, quando tiveres coragem de arrancar o revestimento de prata que tapa os olhos, para poderes de novo ver e amar aos outros.

 
Edição nº 25